Passei os últimos 5 anos a
fotografar pessoas, melhor, a fotografar músicos. É certo que passado todo este
tempo alguns deles entraram na minha vida, transformaram-se em amigos e
continuo a fotografá-los. No entanto, a primeira aproximação, o primeiro retrato,
justificou-se com o que fazem e não com o que significam para mim.
A forma como me relaciono com
as pessoas que vou fotografar, que decido fotografar, que fico obcecada até
fotografar, é intensa. A relação que tento estabelecer com as pessoas que fotografo,
mesmo que por minutos, salta entre o terno e o duro. Chega a ser estranho de
explicar, mas na grande parte das vezes que retrato alguém, vejo na fotografia,
melhor, nos olhos impressos no papel ou na claridade do ecrãn, um bocado de
mim, ou um bocado daquilo que sonho que o outro seja.
Quero, quando fotografo
alguém, que essa pessoa me leve a sério quando lhes elogio o olhar, a
assimetria bonita do rosto, quero que parem, forço-os a parar um bocadinho,
evito que sorriam e tento passar-lhes que aquele momento é nobre, que deve ser
mastigado com calma e que não doí deixarem-se entregar por um bocadinho a mim.
Após toda esta teorização, assumo
que estes momentos, este estabelecer ligações curtas e intensas, me são muito
mais fáceis com estranhos, com quem não me conhece.
Tenho, desde sempre, uma
dificuldade estranha em fotografar os que me são próximos. Nestes anos todos,
levantar uma câmara na direcção de amigos, dos meus pais, dos meus avôs, foi
uma acção que não levei avante muita vez, ou de forma natural. Continuo à
procura da resposta para isto, mas melhor, estou a trabalhar na anulação dessa
minha incapacidade.
Em Junho de 2011 meti-me num avião e visitei de uma assentada uns quantos amigos emigrados. Amigos da escola, amigos de rua, amigos
que chegaram até mim por causa da música. Decidi fazer um retrato a cada um e
marcou-se ali a minha tentativa em anular esta estranheza e em marcar o momento
em que eles estão longe e sentem Portugal a chegar através dos meus olhos. No número 01 da Revista Prata.
Obrigada João e Renato pelo convite.
Obrigada aos meus amigos Manél, Filipa, Ana, Maria, Luís, Diana, Cláudio e Rúben, pelos bocados de vida.
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